Domingo no céu, 2ª feira no inferno

Publicado por Antonio Carlos Santini 21 de setembro de 2017
ceu inferno

ceu inferno

Amigo meu exclama, irritado:
– Para mim, toda segunda-feira é um inferno!

Ele não sabia, mas profetizava: no inferno, todos os dias são segunda-feira…

Os novos pagãos do século XXI bem que gostariam de dinamitar a Bíblia – como os assaltantes vêm dinamitando os bancos -, mas até hoje obedecem fielmente à semana da Criação. A cada sete dias, uma pausa.

É bem verdade que os súditos de Sua Majestade reduziram a cinco os dias “úteis”, inventando a “semana inglesa”. Ávidos, porém, de eficiência e lucro, os dois dias “inúteis” foram logo abocanhados pelo comércio e pelo turismo, que entreviram na “folga” dos homens – pobre arremedo do bíblico shabbat – a nova oportunidade de faturar às custas dos risonhos desocupados.

Na semana do cristão, porém, pontifica um Dia do Senhor. Dies Domini. O Domingo. É o dia do Senhor, sim, mas é o dia da Igreja que se reúne para atualizar a Páscoa e celebrar a morte e ressurreição de Cristo, proclamando aos quatro ventos e aos cinco continentes que Ele vive e é o Senhor. E mais: ao se reunirem, renovam sua aliança com Deus e recusam viver na orfandade.

Mas o Domingo é também o “dia do homem”. Livre das correntes ferruginosas do trabalho obrigatório, o homem recorre ao Domingo para recuperar sua liberdade e recusar a condição de escravo do sistema imposto pelas multinacionais e pelos barões do capital. Para espanto de Karl Marx, o Domingo ainda é a maior de todas as revoluções sociais…

Depois de um bom domingo, vivido em família, celebrado na comunidade, imerso no Criador – também Ele de folga aos domingos! -, a semana começa bem melhor: arejada, ensolarada, produtiva. Após um Domingo de missa, a segunda-feira já não será dia de preguiça. Sem o Domingo, a semana seria apenas uma grande feira: 2ª-feira / 3ª-feira / 4ª-feira / 7ª-feira… E todos nós reduzidos a… feirantes!

Claro, quem enfrentou dois engarrafamentos quilométricos no caminho da praia, comeu mal fora de casa e não encontrou no hotel-fazenda a paz tão sonhada, talvez se arraste praguejando em direção à segunda-feira, sempre encarada naquela conhecida perspectiva infernal.

No céu – acredite o leitor – a semana só tem domingos. Pessoas unidas em comunhão, batizadas de paz, transfiguradas na Luz divina. Certamente, ali teremos boa música – sem baterias perfurando os tímpanos -, cânticos inspirados, delicados balés e a alegria da esperança realizada.

No centro da Cidade, o Cordeiro Imolado, fonte de vida e salvação, o Amor-em-pessoa. E no dia seguinte da eternidade, um novo Domingo, sempre renovado. Enquanto isso, no inferno dos tristes, será segunda-feira… Eternamente segunda-feira…

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