O samba brasileiro entrou em cena com uma novidade tecnológica: o telefone. Gravado por Donga em 1916, o primeiro exemplar registrado desse gênero musical, intitulado “Pelo telefone“, com boa dose de ironia anunciava:
“O Chefe da polícia
Pelo telefone manda me avisar
Que na Carioca tem uma roleta para se jogar
Ai, ai, ai
Deixe as mágoas pra trás, ó rapaz
Ai, ai, ai
Fica triste se és capaz e verás…”
Ainda na primeira metade do Séc. XX, foi a vez de Noel Rosa brincar com a invasão de expressões norte-americanas que o cinema falado levava além das telas. Assim o sambista cantava em “Não tem tradução”:
“O cinema falado
é o grande culpado
da transformação
dessa gente que pensa
que um barracão
prende mais que o xadrez
Lá no morro, seu eu fizer uma falseta
A Risoleta desiste logo do francês e do inglês
A gíria que o nosso morro criou
bem cedo a cidade aceitou e usou
mais tarde o malandro deixou de sambar,
dando pinote
na gafieira dançando o fox-trote
Essa gente hoje em dia
que tem a mania
da exibição
não entende que o samba
não tem tradução
no idioma francês
Tudo aquilo que o malandro pronuncia
com voz macia
é brasileiro, já passou de português
Amor lá no morro é amor pra chuchu
A gíria do samba não tem I love you
e esse negócio de alô, alô boy e alô Johnny
Só pode ser conversa de telefone…”
Mais recente, foi a vez de Wander Pires sambar acompanhando a moda do telefone portátil. Eis a letra de “Celular”:
“Se você sentir saudade,
liga pro meu celular
liga pro meu celular
não deixa a saudade imperar…”
É curioso como a música popular oferece um amplo panorama das transformações experimentadas pela sociedade brasileira desde as raízes da nação. Agora, em tempos e Ipad e Iphone, o samba brasileiro continua à espera dos compositores que incorporem ao seu universo as novas mídias que se multiplicam como minhocas.
Afinal de contas, ouvindo bem, Facebook rima com batuque…
Comentários
Senhor Carlos, a hora é do zapzap
https://www.youtube.com/watch?v=W89jc33jqgQ