Café da vovó

Publicado por Sebastião Verly 15 de setembro de 2016

café da vovó
Café é uma bebida saborosa e estimulante. Praticamente servido em todo o mundo é degustado pelas mais diversas idades, gêneros, crenças e religiões.

Na idade adulta, sempre convivi com pessoas que mencionavam o “café da vovó” como o mais gostoso que já haviam tomado. Era uma referência ao café passado ou coado por ocasião da visita às avós. E era realmente mais gostoso. Há uma aceitável explicação.

Há décadas, o café era colhido nos terrenos da própria família. Secado no terreiro calçado de pedras quando o clima estava seco, torrado em panelões de ferro fundido no fogão a lenha, socado no pilão, depois moído em moinhos manuais e guardado encalcado em latas hermeticamente fechadas. Na hora de passar o café, as vovós tinham sempre um ou dois coadores de pano, mormente de flanela fina, que era previamente escaldado com água quente adrede adoçada. Havia um caneco maior onde se colocava pó sob medida e em seguida se vertia a água pré-fervente, e misturado cuidadosamnte com a colher de pau. Com paciência, despejava-se a calda sobre o coador fixado na cafeteira. Café feito na hora, o cheiro era o melhor da festa. Tomá-lo quentinho, acompanhado das quitandas da vovó, momentos inesquecíveis!

Mesmo depois que o café, pelo aumento do consumo, passou a ser importado de outras regiões, ainda assim, guardava alguns requisitos básicos para o aroma e sabor. Os grãos chegavam crus em sacos de 60 quilos e eram vendidos a granel. Daí em diante, torrefação, moagem, preparo e coação seguiam os conhecimentos adquiridos pelas pessoas mais velhas.

Quando o café passou a ser vendido já torrado no comércio, moído na vista do freguês, ainda guardava pelo menos a pureza mínima possível. Logo em seguida, o café passou a ser colhido, torrado e moído e entregue já empacotado. Nesse processo tudo passou a valer. O café mais popular, conhecido como “conilon” ou “robusta” mistura de tudo que possa aumentar seu rendimento: a própria casca, folhas e até galhos, borra do café ou café esgotado, soja, milho e até sangue bovino.

E tudo foi se degradando: por comodidade, hoje existem os filtros de papel, não mais coadores, o pó é lançado diretamente no filtro e passa diretamente para a garrafa térmica. Depois de algum tempo o aroma, o sabor e até o calor se esvaem. O papel absorve os óleos essenciais do café, fazendo com que ele perca sabor e aroma naturais ao ser filtrado e, se não tomarmos o cuidado de escaldar o filtro antes, passa para a bebida o gosto do papel. Já o coador de pano, por ter mais espaço entre os fios da sua trama, permite que o café passe por ele sem que muito dos seus óleos essenciais seja perdido. Isso resulta em um café mais encorpado e oleoso, bem diferente daquele café brilhante e cristalino que se obtém com um filtro de papel. O café também passa mais rápido pelo filtro de papel, o que significa que ele será extraído em menos tempo e os nutrientes menos aproveitados.

Para quem tiver cuidados como adquirir ou costurar coador de pano, ainda resta uma possibilidade. Adquirir o café “ARÁBICA”, um pouco mais caro, de uma marca conhecida, pois o selo da ABIC não é confiável. Como vai para a garrafa térmica, é fundamental que esta seja previamente escaldada. Além de se usar água filtrada, recomenda-se que seja despejada quando ainda estiver borbulhando, antes da fervura. E também que ela seja despejada nas bordas do coador e não no centro, para se aproveitar melhor os nutrientes do café. Outro segredo, não espere o coador se esvaziar, é importante fechar a garrafa rapidamente para que ela mantenha a temperatura ideal por mais tempo. A “rabeira” pode ser aproveitada em uma caneca também previamente aquecida para ser saboreada na hora. É preciso dedicação e paciência para se seguir o ritual do “café da vovó”.

Comentários
  • Verly 2976 dias atrás

    Boa noite! Felicidades para você todas as pessoas a quem você ama. Muito obrigado pela publicação.

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