– Você não toma banho. É um porco.
– E você bebe demais. É um gambá.
– Mas sua irmã é linda: uma gata!
– E a sua é gorda demais: uma baleia…
– E seu primo lá no Congresso Nacional? Um rato!
– Mas não se relaciona com ninguém: é um porco-espinho!
– Antes, trabalhava dia e noite sem parar, como uma formiga…
– E você continua com essa língua venenosa: uma jararaca!
– Melhor que você, seu bruto, um verdadeiro cavalo!
– E seu irmão, aquele teimoso: uma mula empacada…
– E sua prima, cheia de namorados: não é uma galinha?
– Melhor que a sua, aquela molenga: uma lesma…
* * *
Vem de longe, na linguagem humana, o recurso à imagem dos bichos para identificar nas pessoas humanas suas qualidades marcantes. Desde as fábulas de Fedro e Esopo, passando pelos “Fabliaux” da Idade Média, até o moderno La Fontaine, os escritores apontaram os vícios e defeitos humanos encarnados em animais. A voracidade do lobo, o despotismo do leão, a astúcia da raposa, serviram de espelho para nosso próprio comportamento. Na aproximação ou no contraste, uns fiapos de psicologia humana…
Ali está a esperteza da raposa que adula o corvo, elogiando sua voz maviosa (sic!), até que ele abra o bico e deixe cair o queijo. Ali surge o diálogo do lobo faminto que abandona a lógica para atacar o cordeiro inocente. E foi assim que os humanos adquiriram olhos de lince, tornaram-se pavões diante das câmeras, adotaram risadinhas de hiena.
Até hoje, buscamos no zoológico o imaginário para rotular pessoas. Alberto Juantorena, o atlético corredor cubano foi batizado de “el caballo”. Edmundo, o jogador raçudo, era o “animal”. Na época do plebiscito sobre o parlamentarismo, a propaganda contrária gritava a plenos pulmões: “diga não ao ‘tubarão’”. No regime militar, os policiais que reprimiam as manifestações de rua eram “gorilas”. E hoje, nos corredores do Senado, devidamente engravatadas, trafegam bandos de ratazanas peludas…
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– Você também pensa assim?
– Falô, bicho!