Não sei chorar
Quando chega junho esfrio até a alma
Nasci para estrume
Na terra petrificada
O olhar que lanço ao passado é retorno
É um desespero de homem aos pedaços
O tempo de que me ocupo
Apenas deserto de onde vim para onde vou
Desfigurada hoje
Havia, alhures, uma pequena cidade
O circo na cumeeira do morro
A noite mais estrelada do mundo
E o São João, nossa Natividade, em chamas
Como o sol inclemente do dia seguinte
Então o mundo mudou e ficamos sozinhos
Desesperados como árvores sem galhos
Raiz nenhuma nos reclama de volta
E eu nem sei mais me perdoar
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Como personagem graciliano em fuga no sertão que abrasa – mesmo no inverno – meu amigo Wesley apreende angústias de quem, embora ameace não se perdoar, longe está de perder suas raízes.