O jornal inglês «Catholic Herald» [31/03/16] publicou matéria assinada por Tim Stanley, jornalista e historiador, que apresenta a situação complexa dos eleitores católicos norte-americanos para as próximas eleições presidenciais.
No ano passado, o Partido Republicano atraía os olhares do eleitor católico. Em seus sonhos, um dos seus – Jeb Bush ou Marco Rubio poderia derrotar Hillary Clinton e ocupar a Casa Branca. Um ano depois, as coisas mudaram. A direita religiosa está dividida e sem partido. Um deserto político para os católicos.
Historicamente, os católicos ianques votaram com os democratas, partido dos imigrantes e das grandes cidades. Em 1960, John F. Kennedy – o primeiro e único presidente católico – arrebanhou 78% dos votos de seus correligionários. Stanley observa que, nas duas décadas seguintes, os republicanos passaram a atrair os católicos por suas posições em torno do aborto, da sexualidade e da liberdade religiosa, separando-os da coalização democrática. Nasce uma bifurcação entre católicos «étnicos» mais liberais e os católicos mais conservadores.
Por outro lado, a figura notável de João Paulo II, no final da guerra fria, contribuiu para apagar a antipatia evangélica pelos candidatos católicos. Washington tornou-se o abrigo de dezenas de comitês de ação política favoráveis à família.
A ascensão de Trump
No período 2012-2015, o catolicismo republicano atingiu o seu clímax. Entre outros nomes, cresceram Mitt Romney, Paul Ryan, Jeb Bush e Marco Rubio, este último o favorito do Partido.
Inesperadamente, surge no cenário o fantasma de Donald Trump, alijando as candidaturas de Bush e Rubio.
A reação de muitas organizações católicas foi de horror. Uma carta aberta à nação o rejeitou como «manifestamente inapto a ser presidente», avaliando que Trump poderia ser detido simplesmente pelo peso de suas ideias. Para Tim Stanley, elas se enganaram redondamente, pois bom número de católicos passou a apoiá-lo.
Na Flórida, Trump recebeu metade do voto católico. Em Massachusetts, bastião da família Kennedy, uma espantosa votação de 53% dos católicos, apesar de sua atitude vaga em relação ao aborto e às uniões homossexuais. O próprio Trump casou-se três vezes e se gaba publicamente de suas proezas sexuais.
Acrescentar suas declarações de oposição aos pronunciamentos do Papa Francisco sobre questões sérias como o aquecimento global e a acolhida aos imigrantes. Em fevereiro de 2016, Trump chegou a rotular o Papa de «peão» do governo mexicano. No polo oposto, Francisco disse que a obsessão de Trump por construir muros ao longo da fronteira mexicana é anticristã. O jornal italiano «La Stampa» deu manchete: «O Papa excomungou Trump»…
Estranhamente, a grosseria do candidato acabou atraindo a simpatia de setores conservadores que apoiam a pena de morte e o porte de armas, incomodados com um pontífice que repete a doutrina católica de defender incondicionalmente a vida desde a sua concepção, em todos os estágios de seu desenvolvimento.
A alternativa liberal
Quem fala pelos católicos hoje? O Partido Democrata. Ele é que propõe as energias renováveis, acolhe os imigrantes mexicanos e aumenta o salário mínimo. Mas Hillary Clinton tem uma plataforma feminista e hiperliberal, batendo de frente com a doutrina tradicional da Igreja.
Quando foi adotado o Obamacare – o plano de saúde acessível aos pobres – os democratas insistiram em oferecer a contracepção gratuita a seus beneficiários, em uma violação totalmente inútil do direito constitucional à liberdade religiosa, avalia Tim Stanley.
Daí, a apreensão dos meios católicos em relação à próxima eleição norte-americana. Como escolher entre Trump, disposto a declarar guerra contra Roma, e Hillary, decidida a corroer a moral católica? Stanley não tem a resposta.