Na paróquia de Abruzinhos, Dona Philomena é a dona da liturgia. Ela é quem decide quantas flores estarão no presbitério, quantas velas no altar, quantos coroinhas na missa. Idosa e cansada, bem que ela precisa de auxiliares, mas ninguém aguentou ajudar, pois ela não dá espaço para ninguém. Já comentaram com o vigário, mas ele preferiu mudar de assunto.
Na capela de Nossa Senhora da Expectação, lá no alto da serra, Sêu Orozimbo é o responsável pelas celebrações da Palavra na ausência do sacerdote, o que ocorre todos os domingos religiosamente, exceto na Páscoa, quando um missionário faz a visita anual. Ocorre que Sêu Orozimbo é amasiado com uma senhora que o marido deixou para trabalhar em Brasília, mas nunca voltou.
Na igreja de São Paio, o ministro extraordinário da comunhão é o Dr. Eleutério, conhecido político, membro do Lyons e da maçonaria. Nos dias de adoração, ele veste uma túnica cheia de cores e de dourados e aproveita a ausência do pároco para dar a bênção – ele mesmo – com o ostensório erguido o mais próximo possível da cúpula do templo. E gosta de pedir aplausos da assembléia. Falta saber a quem são dirigidas as palmas…
Os nomes e locais são fictícios. Os fatos são reais. E como pano de fundo, o absoluto despreparo dos fiéis leigos chamados a exercer ministérios na Igreja. Sem formação adequada – ou melhor, sem uns rabiscos básicos de evangelização – os pobres ministros fazem o que lhes dá na telha, ainda que cheguem a cometer despautérios e provocar divisões.
Após o Sínodo dos Leigos [1988], o Papa João Paulo II publicou a Exortação apostólica “Christifideles Laici”, sobre a vocação e missão dos leigos na Igreja e no mundo. No capítulo V, há um alerta a respeito da necessária formação dos ministros leigos:
“Ao descobrir e viver a própria vocação e missão, os fiéis leigos devem ser formados para aquela unidade, de que está assinalada a sua própria situação de membros da Igreja e de cidadãos da sociedade humana.
Não pode haver na sua existência duas vidas paralelas: por um lado, a vida chamada ‘espiritual’, com os seus valores e exigências; e, por outro, a chamada vida ‘secular’, ou seja, a vida de família, do trabalho, das relações sociais, do empenho político e da cultura.” (ChL, 59.)
No tópico seguinte (60), o Papa manifestava a preocupação dos Padres sinodais com a formação espiritual, “que deve ocupar um lugar privilegiado na vida de cada um”. Igualmente, apontava a necessidade de uma formação doutrinal, uma “sistemática ação de catequese”, sem esquecer a “mais decidida promoção cristã da cultura” e uma “consciência mais exata da Doutrina Social da Igreja”.
Ora, o que se vê na prática, com raras e louváveis exceções, é que os fiéis leigos são considerados apenas como “mão de obra” para preencher necessidades paroquiais. O critério de escolha, eminentemente prático (quem vai varrer a igreja… quem vai visitar os doentes… quem vai levar a comunhão no asilo…), deixa de lado a formação do leigo na espiritualidade típica de cada ministério.
Apenas para exemplificar, devia ser óbvio que um ministro extraordinário da comunhão recebesse esmerada catequese eucarística, para ter a exata medida do privilégio de que é revestido e da séria responsabilidade que o onera.
Lembro-me do bispo emérito de Divinópolis, Dom Cristiano Pena, atuando em BH, ao conferir o mandato de ministro da comunhão a uma amiga nossa:
– “Dona Alzira, a Igreja está confiando à senhora o seu maior tesouro!”
Pois é, hóstias não são bolachas. Paramentos não são enfeites. E nós – os leigos – não somos mão de obra…