O direito de matar e morrer

Publicado por Antonio Carlos Santini 22 de março de 2016

direito de matar e morrer

Aristóteles definiu o homem como animal racional. Pobre filósofo! Se o Estagirita vivesse hoje, certamente jogaria no lixo o rótulo que nos impôs…

Uma breve síntese da história contemporânea é suficiente para revelar nossa extrema irracionalidade. Centrais atômicas ameaçam a sobrevivência do gênero humano, cientistas pesquisam novos métodos para impedir a procriação, a mídia sorriu sorrisos de 180 graus ao anunciar o primeiro “casamento” gay oficializado no país.

Por estranho que pareça, o dom da vida, recebido gratuitamente do Criador, passa a ser um fardo que nos incomoda. Por isso mesmo, na mesma medida em que a medicina permite alongar a duração de nossa existência biológica, espalham-se pelo planeta os urros daqueles que reclamam pelo direito de morrer, defensores da eutanásia e do suicídio assistido. Na mesma linha, os defensores do ambiente natural são vistos como execráveis inimigos do progresso. A querela sobre a hidrelétrica de Belo Monte é disso o exemplo cabal.

Em 2011, uma decisão de tribunais norte-americanos anulava uma lei que proibia às crianças a utilização de games, jogos eletrônicos, violentos. São jogos disponíveis na Internet, cujo roteiro inclui atropelar policiais, esquartejar um padre, estuprar velhinhas etc. Define-se um game como violento quando o jogador deve promover, de modo virtual, “mortes, mutilações, desmembramentos ou violência sexual em uma imagem de ser humano”.

Como informou o portal G1, a proposta para a lei de proibição de venda e de aluguel de games considerados violentos foi criada em 2005, pelo senador democrata Leland Yee, e aprovada pelo então governador da Califórnia, o ator Arnold Schwarzenegger. Até ele, o ícone da violência! Desde então, a indústria produtora de jogos eletrônicos e as redes varejistas entraram na justiça contra a proposta, considerada inconstitucional por estes grupos.

Para alegria do comércio mortal, a Suprema Corte dos EUA acolheu os protestos dos fabricantes dos jogos eletrônicos, que alegavam que a proibição feria a Primeira Emenda, segundo a qual julgamentos éticos e morais sobre qualquer forma de arte ou literatura cabem ao indivíduo e não ao governo. Com isso, as crianças e adolescentes podem voltar a brincar de assassinos…

Como pano de fundo, uma hipertrofia do conceito de “liberdade”, a mesma doença que impede a proibição do comércio de armas e contribui para que o corpo social se torne alvo de todas as insanidades dos indivíduos. Ora, a liberdade humana não é um absoluto. Toda liberdade é parcial e deve ser limitada pela liberdade vizinha. Sem tal salvaguarda, a sociedade progride velozmente em direção às cavernas e reavivamos a lei do mais forte.

Na Quinta-feira Santa de 2008, o Papa Bento XVI lançava um alerta sobre o risco de buscar liberdade sem limites: “A tentação da humanidade é sempre a de querer ser autônoma, de seguir apenas sua própria vontade e de pensar que só assim seremos livres, que só graças a uma liberdade sem limites o homem será completamente homem. A verdade é que temos de compartilhar nossa liberdade com os demais e apenas em comunhão com eles se pode ser livre”. E acrescentou: “Esta liberdade compartilhada só pode ser liberdade caso se inscreva na vontade de Deus”.

A conclusão é óbvia: à medida que a humanidade decide caminhar sem Deus, determinando seu próprio rumo, ela se desumaniza e vai perdendo a rica herança que o Evangelho lhe deixou. O mundo pagão é o mundo da tragédia…

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