No baile

Publicado por Antonio Ângelo 11 de dezembro de 2015

no baile

A música era Yesterday.

Ao fundo do salão, tomando uísque,

observava-os a dançar.

Sabia do perfume,

da cintura, da cabeleira em volutas,

da intensidade do olhar na obscuridade.

Via de relance a mão enlaçando a nuca,

a evolução em meio aos pares,

a cabeça inclinada sobre o ombro.

Sabia dos corpos apertados,

ventres colados,

coxas insinuando-se.

Sabia do perfume a exalar do colo,

da suavidade das costas desnudas,

do ir e vir ritmado das espáduas.

(A respiração no ouvido,

palavras ciciadas, um eu te amo,

a trilha dos passos incendiados).

Sabia de tudo e fugiu.

Bêbado, correu para fora,

para a rua àquela hora deserta.

Mirou o céu salpicado de estrelas

descobrindo sem dificuldades a constelação

que – pouco tempo atrás – contemplavam abraçados.

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