A música era Yesterday.
Ao fundo do salão, tomando uísque,
observava-os a dançar.
…
Sabia do perfume,
da cintura, da cabeleira em volutas,
da intensidade do olhar na obscuridade.
…
Via de relance a mão enlaçando a nuca,
a evolução em meio aos pares,
a cabeça inclinada sobre o ombro.
…
Sabia dos corpos apertados,
ventres colados,
coxas insinuando-se.
…
Sabia do perfume a exalar do colo,
da suavidade das costas desnudas,
do ir e vir ritmado das espáduas.
…
(A respiração no ouvido,
palavras ciciadas, um eu te amo,
a trilha dos passos incendiados).
…
Sabia de tudo e fugiu.
Bêbado, correu para fora,
para a rua àquela hora deserta.
…
Mirou o céu salpicado de estrelas
descobrindo sem dificuldades a constelação
que – pouco tempo atrás – contemplavam abraçados.