Na cidade de Pompéu, interior de Minas Gerais, até os anos 1950 não havia energia elétrica e não se ouvia rádio. Logo que se conseguiu o fornecimento de energia elétrica da pequena Barragem do Rio Lambari na divisa com Martinho Campos, umas poucas famílias adquiriram ou já possuíam aparelhos de rádios e ouviam as notícias que eram repassadas para os vizinhos, parentes e amigos. E as principais logo se espalhavam. A comunicação entre os países e especialmente dos grandes para os pequenos centros eram bastante precárias.
Telefone na cidade, nem na imaginação. De boca em boca, divulgavam-se as principais notícias.
Em 1958, já existia um bom número de casas que contavam com o rádio.
Foi na quinta feira, 9 de outubro de 1958, aproximadamente na hora do almoço, que os sinos da igreja começaram a repicar aquele toque que mais parece acompanhar a marcha fúnebre na caminhada rumo ao campo santo. Em poucos minutos todas as pessoas comentavam o falecimento do Papa Pio XII. Depois de quase 20 anos no comando da Igreja Católica, o papa despedia-se deste mundo. Pouquíssimas pessoas na cidade, e creio que pelo Brasil a fora, conheciam um pouco mais da vida do Santo Padre, como eram chamados os papas. Lembro-me, até hoje que, durante a tarde toda, o sino repicou no ritmo fúnebre. Ouço com nitidez as badaladas daquele dia 9 de outubro de 57 anos atrás.
Mudo de assunto.
O que me chama a atenção é que naquele ano a Igreja não tinha um sacristão fixo, auxiliar do padre que seria o responsável por tocar o sino. O sacristão que ajudava as missas diariamente e aos domingos era um garoto, Orlando, se não me falha a memória, trazido de fora pelo padre Josimas. Com certeza, não foi ele quem passou a tarde toda tocando o sino. Deve ter sido um ou dois daqueles confrades vicentinos que estavam sempre à disposição da Paróquia para os misteres religiosos.
Um caso foi puxando o outro até que, enfim, chego ao começo desta crônica.
Um dia desses, conversando, por telefone, com meu amigo Pádua, ele me contava de uma mobilização de sucesso em sua cidade de Ubá, onde as pessoas estão sendo consultadas para sugerir o que gostariam que fosse novamente reativado ou recriado na cidade.
Através de meu perfil no Facebook, sugeri esta ideia também para a nossa Pompéu, dando a sugestão para que o sino da Igreja Matriz voltasse a ser tocado manualmente. É diferente o sino tocado por um motor elétrico ou, pior ainda, gravação eletrônica. O sino tocado por gente parece tocar em nosso coração.
Tive saudades, dos tempos, em 1950, eu ainda não havia completado dez anos de idade, em que o sacristão Manoel, filho do comerciante Joaquim Bandeira, oferecia-me um trocado para tocar o sino, para a missa de manhã, num dia da semana, quando ele estivesse ocupado no comércio de seu pai. Mesmo com sua grande dedicação, demorei para aprender, e quando aprendi, adorava tocar o sino, sempre que me permitissem. Uma tarde, em que eu passava pela igreja e vi a porta aberta, sem permissão, adentrei o templo religioso, dei umas duas badaladas no sino e sai correndo para casa.
Hoje, se colocarem o sino tocado manualmente, como a porta da igreja já fica diariamente fechada por questões de segurança, nenhum garoto poderá entrar para fazer esta travessura.
Muita gente daqueles tempos, ainda viva, ao ouvir o badalar do sino tocado manualmente, terá muitas recordações de tempos que longe se vão. Tempos de vida pacata na cidade.
Comentários
Por quem os sinos dobram?
É isto mesmo, Verly! Quem teve a felicidade de ouvir sinos na infância sabe – e nunca esquece – da beleza e significado de sua sonoridade.