passeia indolentemente pelos salões.
Olheiras explícitas, emagrecido, pálido,
colarinho alto,
incapaz de qualquer ação.
Os que o veem querem logo saber
o que está acontecendo.
Receitam-lhe, uns, remédios,
outros, mandam-no ao curandeiro
que o possa benzer e prescrever raizadas.
No entanto, aflito,
nada lhe interessa.
Tudo que faz
é esperar pela noite.
Mal escurece recolhe-se ao quarto de dormir
onde a janela mantém aberta,
seja calor, chuva ou nevasca.
Permanece acordado, à espreita,
até que às tantas horas
ouve as badaladas
indicando a meia noite.
É quando ela entra silenciosa,
desliza até o seu leito.
Olhos fúlgidos na penumbra,
aconchega-o a seu colo
e expondo-lhe a jugular
ali crava de pronto os caninos.
Como chega, parte;
em passos felinos,
deixando-o exangue,
semidesfalecido em seu leito.
Assim permanecerá
até o raiar da madrugada
quando ao pálido surgir da aurora
outro dia de espera se iniciará.
Comentários
Fantástico, AA! Bravo! Isso é ritmo, isso é poesia, isso é dominar o ofício.
Que vampira é essa? Seria o imposto de Renda? Seria o nosso trabalho? Seria as nossas contas a pagar? Seria a inflação? Estamos sendo exauridos de diversas maneiras e “quando ao pálido surgir da aurora outro dia de espera se iniciará”.