Dar Vida ao Desenho

Definitivamente, não quero aqui ser repetitivo com o que a imprensa, os ambientalistas, a Samarco, as instituições e os governos estão falando sobre a tragédia em Mariana. Fato é que a mesma é sem precedentes, cujo impacto extrapola as questões da fauna e da flora de parte da Bacia do Rio Doce.

Falo aqui dos impactos sociais e da necessidade de uma nova construção urbanística dentro de uma visão sistêmica, que venha a suprir as necessidades da população diretamente atingida, bem como minimizar o trauma causado nessas comunidades.

Quero dizer que não é simplesmente realocar. Não é simplesmente construir uma nova comunidade, uma nova estrutura. Não é simplesmente lotear áreas próximas e assentar as famílias. Não é simplesmente desenhar.

Tem-se que considerar o funcionamento, a comunidade como um organismo, como um sistema. Como trazer de volta a dinâmica das comunidades atingidas, não só em termos econômicos, mas também, culturais e as relações sociais. É o fiado na venda do Sr Manuel, é a “pelada” no fim do dia, a quermesse de outubro, o “cafezin” com broa da dona Maria, a sinuca no buteco do “seu” Pedro.

Salvo as questões emergenciais, de reconstrução, abastecimento e das necessidades básicas, a reestruturação a ser proposta, para toda uma população diretamente influenciada pelo impacto do rompimento da barragem da Samarco, deve considerar o que os planejadores chamam de leitura comunitária. Nada mais é do que respeitar as particularidades de cada comunidade, de cada município. E se o meio ambiente é fator de alta influência, essa reconstrução deve ser sistêmica e buscar, também, a recuperação do equilíbrio ecológico.

Portanto, a participação popular no processo de planejamento e posterior reconstrução das comunidades, deverá ser pauta prioritária nas definições de projetos urbanísticos e de recuperação ambiental.

Afinal, desenhar é fácil, difícil é dar vida ao desenho.