Que seja a mesma noite a nos cobrir
Quando definharmos
Definitivamente.
O mesmo varal
No quintal
Onde roupas brancas balouçam.
A escada velha
Que desce até o tanque
Onde se lavava as panelas.
A mesma palavra
A oração mesma
O pelo sinal.
A cerca de bambu
A horta de meu avô
O cachorro dormitando sob o arbusto.
Não haverá velas nem rumores
Apenas, tão somente o espírito do Senhor
Se abaterá como uma chuva fina
Sobre nossas vidas findas.
Comentários
Esta é uma visão própria de quem fica por mais um momento nesta vida…
Acredito que a alegria do encontro definitivo com o Senhor nos levará a esquecer de imediato esta experiência breve de vida mortal, porque a nossa vida, afinal de contas, é eterna.
Nesse poema de atmosfera melancólica, AA nos leva pelos desvãos da memória e do sonho – a vida é bruma, parece nos dizer. E assim nos guia, anjo promitente, desta para outra vida, aquela que vivemos, a que nos aguarda, serena e peremptoriamente. Para nos ensinar, com a autoridade do poeta, que a ilusão do tempo habita em nós como um relógio andando sempre para trás, rumo ao começo.