Quando o circo passou
por sua pequena cidade
apaixonou-se pelo atirador de facas.
Não teve dúvidas, seguiu-o
deixando para trás pai, mãe e irmãos.
Deixou também sua inocência.
Tornou-se o inevitável:
a mulher que se postava corajosa
ante o atirador preciso.
Foram anos e anos
de uma cidade à outra
até os confins do Brasil.
Minas, São Paulo,
Mato Grosso, Goiás,
agrestes nordestinos.
Viagem sob sol a pino
ou em meio a tempestades
em rústicas estradas de terra.
Nunca, em momento algum
que desconfiou da pontaria
do homem que escolhera.
Facas milhares de vezes
circundaram seu corpo
bem rente à epiderme.
De vez em quando até brincava:
amor, por que você
nunca nem me risca a pele?
Mas naquela noite, estranho,
notou em seu olhar
algo que nunca percebera.
E antes que uma faca
lhe trespassasse o coração
não teve qualquer dúvida:
sabe agora que o traí.
Comentários
Em uma palavra: magnífico. Em outra: soberbo. Se em governo vamos mal, em poesia vamos bem. E muito bem.
Doutor
Vamos editar logo esse livro pois a quantidade de pérolas poéticas já editadas merecem ser conhecidas por todos.
Quanto à pobre mulher traidora, me mereceu que sua história seria um ótimo mote para uma história escrita em cordel, pois tem nuances poéticas mambembes, e eu acho que você está preparado para um desafio que é escrever um longo poema de “A mulher do atirador de faca”, na métrica do cordel. Vai dar um novo livro.
Abraço
MAS