Antigamente em Pompéu, minha cidade natal, onde a chuva é fundamental para a sobrevivência como em todas as cidades do interior, as pessoas mais velhas eram conhecidas como boas fontes de previsão das chuvas.
Desde o calo doendo, até o “trovão longe, chuva perto”, havia diferentes formas de adivinhar o tempo. Ou melhor, de prever as chuvas. Havia os grilos, cujo trinado parecia “carregar” uma espingarda polveira quando fazia um forte trim trim trim; o coaxar da perereca durante o dia, no fundo do paiol ou da casinha de lenha, o coaxar do sapo ao anoitecer, o sabiá laranjeira que dizem que seu canto era “tomara que chova, pra capim nascê pro boi cumê, pro boi cagá, pro sabiá catá”; ainda havia, à noite, o caburé na beira d’água ou na moita mais distante a chamar o gado: tchó, tchó, tchó. O curiango pulava na rua e gritava o próprio nome. A formiga carregando ovos do lado de fora do buraco também era sinal de chuva. Da espécie similar, o cupim quando começava a acrescentar ou recompor sua casa era um bom sinal. A umidade do solo subia e ele aproveitava para tirar o barro necessário. A chegada de uma tempestade era avisada quando o gado solteiro chegava na porteira do curral, vinha correndo do mato fugindo de uma tempestade que poderia cair raios. E havia os mais acreditados “neblina na serra, chuva na terra” e o “céu pedrento, chuva ou vento”. A mais afiada continuava sendo a famosa Folhinha de Mariana que geralmente acertava em suas previsões com pequenas variações.
Quando a seca era braba não tinha previsões. Era “pegar com Deus”, diziam os antigos. E tomem promessas e penitências. Havia desde colocar uma moeda na boca de um defunto para que lá do céu ele pedisse a chuva, até as longas romarias na Cruz do Segredo, na Cruz das Almas ou na capelinha de Santa Cruz. Lá iam filas de mulheres, os homens rezavam em casa, mesmo às escondidas, e a fila acrescentava a cada porta que passava saia mais uma devota para pedir chuva. Devotas de Santa Bárbara para evitar tempestades de raios. A reza era feita em voz alta para ter mais convicção e quem podia levava uma garrafa do precioso líquido para molhar o pé da cruz. Outros levavam pedras na cabeça para valorizar mais o sofrimento. Era batata. Essas preces eram feitas em novembro no mais duro da seca e, quando chegava o 13 de dezembro, “Deus mandava chuva.”
“Pingo d’água” é a bela música que consagra essa crença religiosa para pedir chuva. “Eu fiz promessa, pra que Deus mandasse chuva. Pra crescer a minha roça e vingar a criação.”
Se fizesse tempestade, era hora de apelar novamente para os santos. Dessa vez era Nossa Senhora da Piedade: “Uma excelência nesta rua vai passar, Senhora da Piedade que saiu pra acompanhar; essa reza é tão santa que a tempestade há de parar” “Duas excelências, …; Três excelências… e assim por diante. Havia variações e pedir para a ventania ou relâmpagos pararem. O certo é que depois que a chuva chegava mansa e calma, eram pedidas as aragens que era para secar uma roupa ou mesmo para mais uma lida na roça. Mas, aí não era preciso fazer promessa ou pagar penas. O pessoal da roça tinha lá sua sabedoria.
Dizem que os índios tinham métodos tão simples e muito mais certeiros. E que até se precaviam guardando lenha ou protegendo, os animais e a própria moradia.
Na cidade grade, não tinha uma variedade de previsões. Era o jornal diário que trazia a coluna bendita da “Previsão do Tempo”. Ninguém mais confiava naquelas previsões. Aí chegou o rádio com dados da meteorologia que era a palavra repetida para diferenciar de crenças populares. Mais tarde veio a Televisão que cita inclusive as fontes para dar mais credibilidade. E como erram! E os meteorologistas, com sua empáfia, dizem: “Tempo Bom!”, para nos avisar que o dia seguinte será de sol. Nos últimos tempos, temos os sites de pesquisas e os provedores de Internet que, apesar dos erros ainda é dos mais consultados. Ainda hoje, pelo menos no tempo da Patrícia Poeta quando eu ainda via previsões no canal em que ela trabalha, a apresentadora referia ao tempo bom como dia ensolarado. Grande equívoco.
Tempo bom, deste mês de setembro em diante, para todo o Brasil, é tempo chuvoso. E não, como anunciam os meteorologistas: “Tempo bom” com nebulosidade passageira.
Comentários
Ficou excelente Muito obrigado.
Verly