Consulta do leitor Augusto Cantanhede
“Sou Augusto Cantanhede, jornalista no Folha Universal. Estou trabalhando numa matéria cujo tema é o homem casado que ainda mantém hábitos de solteiro. O homem que ainda age como se não tivesse uma esposa para dar atenção, que não liga para comunicar suas atividades, que passa o seu tempo livre com os amigos e esquece da esposa, tem amizades femininas que são pegajosas e muito íntimas, exagera na atenção aos pais.
1 – O que leva um homem a agir de forma imatura, a manter hábitos e comportamentos de solteiro?
2 – O que fazer quando os hábitos da solteirice não são abandonados? Quando a falta de responsabilidade, a conduta infantil e egoísta ameaça o relacionamento? Como agir com o marido que dá mais atenção aos amigos, que passa tempo demais fora, que não comunica as suas atividades?
3 – Quais atitudes devem ser tomadas pelo homem que deseja ter uma postura madura e assumir as responsabilidades que estar casado implica?
Aguardo sua resposta e peço que confirme recebimento deste e-mail”
Resposta do autor:
Prezado Augusto,
O casamento que você descreve é típico de homens machistas. Mas esta conduta só existe porque a mulher é submissa, suporta. Por sua fragilidade, insegurança e medo de perdê-lo, dá a ele direitos que ela própria não exerce. Num casamento equilibrado, ou maduro, como você chama, os cônjuges estão em pé de igualdade. Direitos iguais. O contrato verbal que subjaz a todos os casamentos é explicitado e ambos estabelecem os direitos e tarefas que desejam um do outro e procuram cumprir. Se a mulher parece uma vítima inocente de um homem que permanece com vida de solteiro estando casado – como você chama – é porque ela permite. Não é vítima, é cúmplice.
Quando o contrato matrimonial é discutido abertamente, muitos tipos de casamento podem existir a partir daí. O casal pode decidir por uma estrutura fechada, onde ninguém terá amizades com o sexo oposto, a não ser que ambos estejam presentes, ou pode estipular que cada um terá o direito de manter amizades íntimas com pessoas do próprio sexo ou do sexo oposto. Não é o tipo de casamento, visto de fora, que revela se este casamento é maduro, equilibrado, ou não. É o grau de felicidade entre ambos, de diálogo, de acordos estabelecidos e cumpridos que revela a maturidade deste casal.
Como vão viver, se de modo possessivo e fechado ou de modo aberto e mais ou menos livre, será decisão recíproca, em comum acordo, e sempre aberto a novos avanços ou retrocessos, conforme o desejo de ambos. Num casal assim existe amor, o que significa: ‘Eu te quero feliz ao meu lado.’ ‘Tenho meus limites, nem todas as liberdades eu posso permitir, mas quero que vivermos juntos seja uma alegria, não uma prisão.’
Belo Horizonte, 23.08.2014