Tenho o hábito de contemplar o “pessoal da Igreja” – na expressão de Jacques Maritain – e comparar os vários tipos de homens e mulheres batizados. São vários, por certo, mas destaco três deles: os indiferentes, os simpatizantes e as testemunhas.
É bem numeroso o primeiro grupo. Olhando de longe, ninguém diria que um dia essas pessoas foram mergulhadas nas águas do Batismo cristão. Seu dia a dia é idêntico ao de um pagão: comer, dormir, trabalhar. Não vão à igreja, não rezam em casa, não reagem à guerra da mídia contra a religião. Se a torre da matriz tocar a Ave-Maria num belo pôr-do-sol, eles jamais sentirão um arrepiozinho. São indiferentes…
O segundo grupo também conta com muitos membros. Já estes comparecem alegremente à missa dominical, sentindo-se em casa e cantando a plenos pulmões os hinos e cânticos. De fato, estão em festa. Se dependesse deles, o abraço da paz teria quinze minutos de duração. Tríduos e novenas sempre contam com sua presença. Se houver quermesse e barraquinhas, ali estarão entre sorrisos e pastéis. Não perdem uma procissão, entram na carreata de São Cristóvão e acompanham festivamente a cavalgada de São Sebastião.
É bem verdade que raramente leem a Sagrada Escritura, aquele belo livro que fica na estante da sala, sempre aberto no Salmo 90, para espantar o capeta. Não participam do círculo bíblico por absoluta falta de tempo. Aliás, coincide com o horário da novela, o que é imperdoável. Retiro espiritual, nem pensar! De qualquer modo, são muito simpáticos…
O terceiro grupo é muito reduzido. Mas existem, sim, as testemunhas, cuja vida é um Evangelho passado a limpo. Pode ser até que seu modo de viver suscite estranhezas e interrogações, ou mesmo críticas e condenações.
É o caso do meu amigo Tônio, de Petrópolis, que abandonou sua profissão para fundar a Comunidade Jesus Menino, onde já foram acolhidas mais de cem crianças deficientes físicas e mentais, todas elas adotadas por ele, de papel passado.
Outra testemunha do terceiro grupo pode ser meu “filho” Paulo Simonetti – o “Paulão” -, a quem poderíamos encontrar na favela, entre catadores de lixo, ou no presídio de segurança máxima, cantando e pregando o Evangelho aos detentos. Lembro que ele ficou noivo num dia e, logo na manhã seguinte, pediu demissão do emprego no banco, para ter tempo livre para evangelizar.
É ainda o caso das centenas de jovens – rapazes e moças – que deixaram família, emprego e faculdade para aderir à Comunidade Aliança de Misericórdia, onde se dedicam a cuidar de órfãos, idosos, dependentes de drogas, prostitutas e outros abandonados do sistema. Ou aquelas equipes que visitam os hospitais para consolar os doentes, rezando com eles e levando sempre uma palavra de esperança.
Claro, a vocação que eles ouviram e acolheram costuma ter consequências práticas: uma vida simples, sóbria, de sacrifícios e renúncias. Eles entenderam logo de início que não é possível seguir a Jesus sem abraçar a cruz. E é o que fazem.
Enquanto existir o terceiro grupo, não faltará quem dê testemunho de que Jesus Cristo ressuscitou de verdade…