Nosso amor que era lindo
e eterno,
ontem se acabou.
Nesta estação abandonada de trem
à hora em que mais diluviais
chuvas despencaram sobre a terra.
Acabou-se o nosso amor
como quem se desgarra
e busca esvair-se gota a gota
de sangue –
ou seria de represadas linfas?
Substância indefinível – o nosso amor.
Não vimos como definhou.
Poça ao sol? Escombros tragados pela voragem?
Tudo agora é incerto e o pássaro que no galho
canta ao fim do dia, como em qualquer outro dia,
melhor que nós deve saber
o por que de se confundirem os sentidos
e o silencio do sino à hora do Angelus.
Sim, o nosso amor que infindo era
perdeu-se entre confusas inconfidências
e logo-logo será: menos que cinza,
menos que obliqüidades,
menos que simulações de memória, sonhos,
um bando de peixes se arrastando à toa
sob árticas geleiras.
Comentários
Que romântico! Mesmo passando por um sentimento de abandono, de incompreensão da própria situação, ainda atenta para o canto do pássaro, para o silencio dos sinos. Só um poeta consegue transmitir de forma tão bonita os sentimentos e situações vivenciadas.