Em busca do pássaro azul…

Publicado por Antonio Carlos Santini 2 de outubro de 2013

Você quer ser feliz? O que seria necessário para sua felicidade? Afinal, por que motivo você ainda não é feliz?

Não são perguntas banais. Alguém abandona uma carreira de sucesso no mundo financeiro para ser pintor nos mares do sul… A mulher rica e bonita deixa o marido rico e feio para fugir com um garotão irresponsável e de boa pinta… Uma nação rica e sem problemas sociais, como a Suécia, apresenta um dos mais altos índices de suicídio no planeta… Parece que não eram felizes…

Para ser feliz? Dinheiro no bolso – responde muita gente. Como se um milionário não tivesse depressão! Uma mulher bonita – diz outro. Como se Marylin Monroe não tivesse passado de mão em mão, sem fazer feliz a nenhum de seus homens. Morar nos Estados Unidos! – cantam em coro os habitantes de Governador Valadares. Como se muitos deles, naquele país, não tivessem roído o pão que o diabo amassou com o rabo…

Lembro-me de um livro – “Em Busca do Pássaro Azul” – cujo autor, um jornalista, vivia uma vida nômade nos EUA, saltando de cidade em cidade com a família, à procura da cidade ideal onde seriam felizes. O verão fora agradável no Norte, mas o áspero inverno o levou para as amenidades da Flórida. A vida pacata o cansou e logo migrou para Nova Iorque, onde viveu apenas dois meses, pois o tumulto da megalópole tornou-se insustentável. Aqui e ali, o autor fala de suas lembranças: como eram azuis as flores da Califórnia! Como era bom patinar no gelo do Central Park! Como foi bom criar galinhas nos subúrbios de New Haven!… E nada disso acontece agora, aqui onde estou…

Coisa estranha! Para alguém ser feliz, as coisas deveriam ser “diferentes”. Aliás, é por isso que acontecem greves, motins e revoluções: para mudar as coisas e trazer – já! – o Paraíso Perdido que se encontra – ainda – fora de nosso alcance. Ora, não será possível encontrar a felicidade na realidade que nos foi dada?

Hum… Realidade… Quem disse que a felicidade e a realidade navegam no mesmo barco? Faça a experiência e pergunta a dez pessoas: “Dá pra ser feliz na realidade que você está vivendo?” Prepare-se para ouvir muitos “não”…

Ainda mais estranho é o comportamento das pessoas. Alguém protesta contra o clima de violência que domina a sociedade deste século, mas perde horas na TV assistindo a programas policiais e seriados apocalípticos. Alguém observa que a juventude está corrompida, mas é freguês permanente de uma programação que inclui mulheres seminuas, piadas de duplo sentido e cenas de sexo explícito. Isto é, reclamam de uma realidade que já está entranhada bem dentro delas mesmas.

Conta-se que o jovem Czar de todas as Rússias havia mergulhado em profunda depressão. Teve a ajuda dos médicos e dos magos, dos alquimistas e dos conselheiros. Tudo em vão! A depressão só aumentava. Até que um monge lhe disse em surdina: “Vossa Majestade só terá a paz quando vestir a camisa do homem feliz”…

Bastou para que o poderoso governante arreasse seu cavalo branco e saísse pelas estepes geladas em busca do homem feliz. Decepção! Todos os súditos se diziam infelizes: o trabalho cansativo, o clima inclemente, a dor nas costas, a sogra viperina… Cada um tinha seu motivo para ser infeliz.

Uma tarde, quase sol posto, do alto da montanha, o Czar viu na planície um homem que lavrava sua terra e cantava canções do folclore russo para o boizinho que puxava o arado. Ele parecia bem feliz. Esporeando o cavalo, o rei de todas as Rússias desceu a ravina, veloz, e só firmou as rédeas quando estava diante do lavrador. Foi logo perguntando:

– Você é feliz?

– Sim, respondeu o mujique. Sou feliz…

– Então, me dê sua camisa! – suplicou o Czar.

E o lavrador respondeu:

– Perdão, Majestade, eu não tenho camisa…

*   *   *

Como disse uma escritora norte-americana, “a felicidade não é uma estação aonde chegamos, mas uma simples maneira de viajar”…

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